No jardim do meu sonho, outr’ora, quando entrava
na vida, ao resplendor de um sol de cereja,
tive a promessa de uma flor que despontava,
na ilusão de quem vai possuir o que deseja.
E, ardente, do calor da minha alma que é lava
fulgida, à luz do olhar que nunca mais se veja,
tendo por humildade o pranto que eu chorava,
a flor se abriu, sorrindo, à sombra de uma igreja.
Uma tarde, porém, sinto que me envenena…
E na volúpia de augmentar a própria pena,
espedaço-a nas mãos! Ó Dor, que me confortas!
Hoje, a sós no jardim, às horas lardas, quedo,
vendo entre um gozo estranho e uma impressão de medo
boiarem na piscina umas pétalas mortas.
Henriqueta Lisboa, Fogo fátuo