A árvore era humilde e arqueada,
assim como os ombros de um inválido.
Mas dava sombra e ríspidas flores vermelhas.
E liquens e pássaros e abelhas.
Um dia, suas grossas raízes fenderam a calçada,
deixando à mostra as vísceras do pátio.
E então derrubaram-na a golpes de machado.
Sobre o piso refeito, polido e imaculado,
os cães urinam e defecam,
os transeuntes escarram e cospem suas pragas,
os ratos roem os restos de uma carcaça abandonada
e os mendigos se arrastam como vermes
rumo ao nada.
Ivan Junqueira, O outro lado