Do amor não quero mais a aventura,
quero a companhia.
Já não procuro ilusões e surpresas
se todos os caminhos foram percorridos,
se oblíquo sol da tarde alonga a minha sombras
presa ainda a meus pés, a fugir, para onde?
Quero a compreensão, a tranquila ternura,
a presença melhor depois que amada,
a que sabe ser luz clareando a estrada,
ser aragem na fronte ardente a inquieta;
– alta maré para encobrir escolhos,
ser água para a sede que atormenta,
sombra, quando a luz doer nos olhos.
– A que inteira se dá sem pedir nada
só pela humilde alegria de se dar!
A que é pousada para o amor que vinha
já cansado de tudo e que não tinha
onde ficar.
A que tem mãos felinas, mãos que arranham
infladas de amor,
sem a gente sentir,
mãos que enlaçam, depois, cantam ternuras,
e que emberçam as nossas amarguras
e nos fazem dormir…
A que é mulher, – mar alto, porto e abrigo –
a que fica a nossa espera,
à que se pode voltar a qualquer hora…
A que sabe perdoar nossos pecados
nossos marinheiros desejos desgarrados
e não nos mandam embora…
Do amor não quero mais a aventura
quero a companhia:
a que depois do beijo
me dará a mão,
a que será minha – à noite se entregara
sem pejo –
e impoluída e pura,
continuara comigo, com a mesma ternura
no coração…
Quero a doce, a permanente companhia .
A que depois da noite
é o meu dia,
e, com o braço em meu braço
há de acertar seu passo
na mesma direção…
J. G. de Araújo Jorge, Os mais belos poemas que o Amor inspirou, Vol IV