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J.G de Araujo Jorge – Decolagem

“O ato da criação poética
é uma decolagem.” Proust

Decolo
de mim mesmo:

Mas sobem comigo as raízes da angústia
de um mundo cada vez menor à minha vista,
ao qual continuo ligado, placentariamente,
como um bebê ao útero materno.

Tento nascer, libertar-me, em vão
por mais que suba estou preso ao chão
à terra, por invisíveis nós,
só não compreendo por que à distância
os homens vão ficando insignificantes,
e, com certeza, não compreenderão a mensagem
quando o coração voltar ao angar de meu peito
e recolher-se, a sós.

Pressinto que serei um estrangeiro louco
à procura de compatriotas
num mundo sem fronteiras.

Decolo
Sou um astronauta na cápsula da minha imaginação
ao descobrir, subitamente, novas dimensões
para todos os desejos e preocupações
terrenas,
e o mundo
em que entre sonhos e penas me arrasto, em que agito,
e aquela lua grande, grande
mas insignificante como o grão de pó, perdido na poeira
do Infinito.

J.G de Araujo Jorge, Tempo Será

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