Jacques Prévert – O gato e o pássaro
Uma aldeia escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da aldeia
E foi o único gato da aldeia
Que o devorou pela metade
O pássaro deixou de cantar
O gato deixou de ronronar
E de esfregar o focinho
E a aldeia preparou para o coitadinho
Um extraordinário funeral
O gato que também foi convidado
Seguiu atrás do pequeno caixão de palha
Onde o pássaro morto jazia
Carregado por uma menininha
Que não parava de chorar
Se eu soubesse que isso ia te fazer sofrer tanto
Disse-lhe o gato
Eu o teria comido inteirinho
E depois eu lhe diria
Que o vi partir voando
Voando até o fim do mundo
Lá longe onde é tão longe
Que de lá nunca se volta
Você sofreria bem menos
Ficaria tristinha e só lamentaria um pouco
Nunca devemos deixar as coisas pela metade.
Jacques Prévert, Dia de folga