Jalaluddin Rumi – A grama
O mesmo vento que arranca os troncos
faz a grama brilhar.
O vento senhoril ama a fraqueza
e a humildade da grama.
Jamais se vangloria de ser forte.
O machado não se preocupa com a grossura dos galhos.
Ele os corta em pedaços. Mas não as folhas.
Ele deixa as folhas em paz.
Uma flama não considera o tamanho da pilha de lenha.
Um açougueiro não corre de um rebanho de ovelhas.
O que é a forma na presença da realidade?
Muito pobre. A realidade mantém o céu revirado
como um cálice acima de nós, girando. Quem rodou
a roda do céu? A inteligência universal.
E o movimento do corpo
vêm do espírito, como uma roda d’água
construída num riacho.
A inalação e a exalação vêm do espírito,
agora raivoso, agora em paz.
O vento destrói, e protege.
Não há realidade que não Deus,
diz o xeique completamente entregue,
que é um oceano para todos os seres.
Os níveis da criação são como pequenas ondulações neste oceano.
Seu movimento provém de uma agitação na água.
Quando o oceano deseja acalmar as ondulações,
ele as envia para perto da costa.
Quando ele as quer de volta, junto as grandes ondas do mar profundo,
faz com elas o mesmo que faz com a grama.
Isso nunca acaba.
Jalaluddin Rumi, A dança da alma