Numa dessas tardes vazias,
em que só se está, não se vive,
da janela que dá para a rua,
comercial, consular e triste,
vi passar, entre as que passavam,
uma mulher de andar sevilha:
o esbelto pisar decidido
que carrega a cabeça erguida,
cabeça que é, soberana,
de quando a espiga mais se espiga,
que carrega como uma chama
negra, e apesar disso acendida,
que a mulher dali não conhece:
que é a da mulher da calle Feria,
que é onde as mulheres da plebe
passam com porte de duquesas.
João Cabral de Melo Neto, A literatura como turismo
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