Menina, quem te viu?
Ora, eles te veem.
Menina, você já se viu assim?
Conta para mim,
me diz que sim.
Me diz que a vista do espelho é bonita
e que a maresia do seu cabelo
repousa bem.
Me diz que sente orgulho da cor do seu batom
e que é pelos seus olhos
que você,
e só você,
escolhe o tom.
Menina, me diz
que aí no Rio
faz frio.
E que o casaco quem usa
é você.
Menina, me diz que em São Paulo
falta amor.
Mas me diz que o coração que sente
por você
é o seu.
Menina, me diz aqui,
o que tem escrito nos seus olhos?
Já parou para perceber
que a gente tem vergonha
de se olhar por muito tempo?
Ou é incômodo?
É o medo de perceber que os olhos
com os quais tanto enxergamos
são de outras
pessoas?
Não tenha medo.
Menina, abre o olho
e enxerga o seu amor.
Que rosto bonito você tem.
Menina,
já olhou no fundo dos olhos de quem te chama
de “meu bem”?
Faz você, então.
Amar a si mesmo
é um puta remédio
para o coração.
Se olha no espelho
e diz que é você quem você
vê,
menina.
João Doederlein, O livro ressignificados
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