Recuso-me a aceitar o que me derem.
Recuso-me às verdades acabadas;
Recuso-me, também, às que tiverem
Pousadas no sem-fim as sete espadas.
Recuso-me às espadas que não ferem
E às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
E às almas que já foram conquistadas.
Recuso-me a estar lúcido ou comprado
E a estar sozinho ou estar acampanhado.
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.
Recuso-me à inocência e ao pecado
Como a ser livre ou ser predestinado.
Recuso tudo, ó Terra dividida!
Jorge de Sena, Cinco séculos de sonetos Portugueses