À procura da tarde
fui perscrutando inutilmente as ruas.
Os saguões já estavam entrevados de sombra.
Com fino polimento de mogno
a tarde inteira remansara-se na praça,
serena e sazonada,
benfazeja e sutil como uma lâmpada,
clara como uma fronte,
grave como o gesto de um homem enlutado.
Todo sentir se aquieta
sob a absolvição das árvores
— jacarandás, acácias —
cujas curvas piedosas
amenizam a rigidez da impossível estátua
e em cuja rede se enaltece
a glória das luzes equidistantes
do leve azul, da terra avermelhada.
Que bela vê-se a tarde
do singelo sossego de seus bancos!
Lá embaixo
o porto almeja latitudes distantes
e a profunda praça igualadora de almas
abre-se como a morte, como o sonho.
Jorge Luis Borges, Primeira poesia