Não é do pai que falo — do amigo. Das conversas
que ficaram por cumprir porque a morte se interpôs
e as não permitiu. Do Lancia Delta que eu achava nos
idos anos noventa o carro mais lindo do mundo e que
ele, sapiente, retorquiu numa viagem luminosa
é demasiado semelhante a uma carrinha. O meu pai
não gostava de carrinhas. Mas não é dele que falo –
do amigo. Aquele que à entrada da salinha me via
vibrar como David Bowie a cantar I, I wish you could
swim, like dolphins, like dolphins can swim, vestido
de verde-alface. O David Bowie é o único homem
no mundo a quem um fato verde-alface fica bem.
O meu pai o único que consegue ficar para sempre
à entrada da salinha.
Jorge Reis-Sá, Pátio