Acordei quando senti meu braço esquerdo soltar-se do ombro a que sempre
estivera preso.
Que transtorno!
No dia seguinte eu precisava comparecer ao meu baile de formatura.
Como explicar a repentina desaparição do braço?
Embrulhei-o numa folha de jornal e saí à procura do médico
da cidade. Não estava em casa, tinha ido para o clube.
Lá não me deixaram entrar com o pacote. Poderia ser uma
bomba e estava-se às vésperas da eleição da nova diretoria.
Voltei desolado para casa. Deitei-me e tentei soldar o braço
com um pouco do sangue que ainda não secara de todo.
Pelo jeito deu certo. Quando tornei a acordar, surpreendi-me
abafando com a mão esquerda um bocejo de astuta satisfação.
José Paulo Paes, Socráticas