José Paulo Paes – A braços com um problema

Acordei quando senti meu braço esquerdo soltar-se do ombro a que sempre
estivera preso.

Que transtorno!

No dia seguinte eu precisava comparecer ao meu baile de formatura.
Como explicar a repentina desaparição do braço?

Embrulhei-o numa folha de jornal e saí à procura do médico
da cidade. Não estava em casa, tinha ido para o clube.

Lá não me deixaram entrar com o pacote. Poderia ser uma
bomba e estava-se às vésperas da eleição da nova diretoria.

Voltei desolado para casa. Deitei-me e tentei soldar o braço
com um pouco do sangue que ainda não secara de todo.

Pelo jeito deu certo. Quando tornei a acordar, surpreendi-me
abafando com a mão esquerda um bocejo de astuta satisfação.

 

José Paulo Paes, Socráticas