Recorto a minha sombra da parede, Dou-lhe corda, calor e movimento, Duas demãos de cor e sofrimento, Quanto baste de fome, o som, a sede.
Fico de parte a vê-la repetir Os gestos e palavras que me são, Figura desdobrada e confusão De verdade vestida de mentir.
Sobre a vida dos outros se projecta Este jogo das duas dimensões Em que nada se prova com razões Tal um arco puxado sem a seta.
Outra vida virá que me absolva Da meia humanidade que perdura Nesta sombra privada de espessura, Na espessura sem forma que a resolva.
José Saramago, Os poemas possíveis
Despertar rumores da… Leia Mais
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— Lucas! —… Leia Mais