Júlia Cortines – Desencanto
A alma me disse: –“Quero, sacudida
De inspiração nas asas, me elevar
Do tenebroso pélago da vida
Às profundezas do celeste mar,
Onde resplende a vaga azul, batida
De sol, e a Via láctea, a flamejar,
Entorna sobre a vaga enegrecida
As contas luminosas do colar.”
Quando desceu: –“Os céus a que subiste
De oiro e de azul em realidade são?
(Interroguei-a) Fala: o que é que viste
Ao fundo dessa rútila amplidão?”
–“Da treva apenas vi, surpresa e triste,
O ilimitado e lúgubre golfão…”
Júlia Cortines, Poesias Reunidas