Quem te disse o segredo destas lágrimas,
Pra assim me consolares?
Quem te disse que a dor que me angustiava
Cedia aos teus olhares?
Criança, onde aprendeste essa ciência,
Ignorada de tantos?
Algum anjo do Céu é quem te inspira
Do conforto os encantos?
Oh! Vem, vem junto a mim com os teus sorrisos
Livrar-me destas trevas,
Rir-te do meu ar lúgubre, falar-me,
Vem, que só tu me enlevas.
Protegido por ti em círculo mágico,
Desafio a tristeza,
Que onde a infância se mostra tudo folga,
Homens e natureza;
Para ti, para a tua idade descuidosa
Semeou Deus as flores,
Deu-te o cantar das aves por cortejo,
Deu-te o Céu por amores.
Vem, pois, os teus cabelos de ouro puro
A pousar-me na cara,
Como os raios do Sol cingindo as serras
Ao surgir no horizonte.
Vem, que junto de ti nem compreendo
Estes falsos tormentos;
Mensageira celeste, sê bem-vinda,
Longe meus pensamentos!
Quando, baixando o rosto, os olhos pousam
Em sorrisos de infantes,
Esquece-se o infortúnio, os risos voltam
E erguemo-nos radiantes.
Assim como nos rimos dos teus ogos,
Tu ris das nossas penas;
Ambos somos crianças, variando
O nosso brinquedo apenas.
Tu criaste uma vida imaginária
Que cede à fantasia.
Nós com a vida real também brincamos,
Porém sem alegria.
Júlio Dinis, Poemas completos