Onde vai o teu pensamento
Quando, os olhos elevando,
Segues das aves ligeiras
Esse harmonioso bando?
Que te dizem os gorjeios
Dessas pobres foragidas,
Que vão procurar ao longe
Outras selvas mais floridas?
Acaso temes, como elas,
As nuvens negras, pesadas,
E os ventos que descem rápidos
Das altas serras nevadas?
Acaso invejas as asas
Desses plumosos viajantes?
Acaso aspiras à vida
Noutros climas mais distantes?
Não, querida, não receies
Do Inverno os duros rigores;
Quando do Sol falta a chama
Brilha a chama dos amores.
Não são para nós mais lúcidas
As noites que o próprio dia?
Que onde a luz do céu falece,
A paixão é que alumia.
E o gelo, que as pobres aves
Na relva prostra sem vida,
Fundir-se-á ao fogo ardente
Da nossa paixão, querida.
Júlio Dinis, Poemas de Júlio Dinis
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