Laura Riding – Verdade
Sempre procuramos a Verdade.
Ela tem medo de ser pega.
Livros são gaiolas.
Verdade não é um canário
Para ciscar palavras com paciência
E morrer depois de comer todas.
A verdade não gostaria de viver
Na cabeça ou na garganta ou no coração de alguém.
Não tente acha-la ali.
A verdade não é dríade pra ser punida numa arvore
A verdade não é nenhuma náiade.
A verdade certamente se afogaria numa fonte.
Deixe a terra em paz.
A verdade não deixa pegadas.
Não escute
Até o silencio se pôr com a lua.
A verdade não faz ruídos.
Não siga a luz
Que segue o sol
Que segue a noite.
A verdade dança além da luz
E do sol
E da noite.
A verdade não pode ser vista.
Deixe a curiosidade ficar em casa.
Ela pode se perder.
(A verdade frequenta antros estranhos.)
Se, criança, o segredo se calça,
Um dia será imprudência.
Deixe a verdade em paz.
A verdade não pode ser pega.
Acho que ela não vive nada, não,
Pois teria medo de morrer, então.
Laura Riding, Mindscapes – poemas