O meu amor é apenas um dorso
que se deixa dourar pelo cair da tarde.
Só o ar que respiro conhece o tesouro
que guardo, em sigilo, num mundo de alardes.
Quando a alvura da tarde se transmuda
num negror de pentelhos, e a caliça
das estrelas me cega, um delta de betume
numa mulher deitada me enfeitiça.
E a noite, que suprime a forma dos gasômetros
e corrói a carcaça dos navios,
nas galáxias de asfalto finca as paliçadas
que escondem os amantes num horizonte
onde os fogos escorrem como rios
entre a rósea bainha e a ardida espada.
Lêdo Ivo, Melhores poemas