Lorena Martins – A Janela gradeada

suspensa na xícara
café amargo

esqueço de adoçar,
eu nem sempre
esqueço.

a mala ocupando o
corredor
arranca-me os sapatos

eu salto
eu caio
eu esparramo mapas

enquanto o telefone
toca
e eu não atendo.

do parapeito
desconheço vizinhos
aceno em vão

deixo queimar
o rosto
a metade

memorizo o caminho
de volta
com as bolas do colar
vermelho

embrulho tudo no
lençol
lenços, casacos

caixas-pretas

amarradas, assustam o porteiro
bom dia, dona flor

é feriado.

Lorena Martins, Água para viagem