nula parte
é meu ar apoiando-se na janela:
os olhos calados de sol
e o rosto queimando
à boca entreaberta.
(uma folha demora a cair sobre mim)
entre os versos à porta
talhados à ponta de chave
desabo singela
e música.
é meu o olhar que se abre na fresta do banho
é tua a ausência que escorre
inunda os pés
deságua silêncios.
(queria mesmo a cama das tuas pernas)
não há mais chão para o cansaço
sou pluma e cinzas flutuando pela casa
a encarar a porta
a cegar à janela
a chorar nua.
na soleira do quarto
abandono a cabeça entre as mãos
até sentir o cheiro da minha pele
vazio.
Lorena Martins, Água para Viagem
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