Luís Vaz de Camões – II (Alma minha gentil, que te partiste)

Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo deste corpo descontente,
repousa tu nos Céus eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória deste mundo se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

pede a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo dos meus olhos te levou.

 

Luís Vaz de Camões, Sonetos