Chama-se a vida a um martírio certo
Em que a alma vive se morrer não pode,
É crer que há vida p’ra o arbusto seco,
Que as folhas todas para o chão sacode.
Dizer que eu vivo… e minha mãe perdi,
Minha alma geme e o coração de amores,
É crer que um filho, sem a mãe… sozinho,
Também existe, com pungentes dores.
Dizer que vivo, se ausente existo
Da amante terna, tão formosa e pura,
E crer que triste desgraçado preso
Vive também lá na masmorra escura.
Quero despir-me desta vida má,
Quero ir viver com minha mãe nos céus,
Quero ir cantar os meus amores todos,
Quero depois em ti pensar, meu Deus!
Machado de Assis, Obra Completa
Sem comentários