Belo belo belo
Tenho tudo quanto quero,
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios,
E o risco brevíssimo — que foi? Passou — de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia a dentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos,
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
— Quero a delicia de poder sentir as coisas mais simples.
Manuel Bandeira, Lira dos cinquent’anos
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