Manuel Bandeira

Manuel Bandeira – Dor

O seu olhar varou-me a alma abismada,
Fundiu-se em mim, tão minha parecia,
Que não sei se este alento de agonia
É vida ainda ou morte alucinada.

Chegou o Arcanjo, desferiu a espada
Sobre o duplo laurel que florescia
No horto concluso… E desde aquele dia
Voltei, dentro das trevas, ao meu nada.

Julguei que o mundo, para o humano assombro,
Ia rolar de súbito no escombro
Da ruína total do firmamento…

Mas vi a terra em paz, em paz a altura,
O campo tão sereno, a linfa pura,
O monte azul e sossegado o vento!…

Manuel Bandeira, Antologia poética

Tudo é Poema

Publicado por
Tudo é Poema