Muda e sem trégua
Galopa a névoa, galopa a névoa.
Minha janela desmantelada
Dá para o vale do desalento.
Sombrio vale! Não vejo nada
Senão a névoa que toca o vento.
Lá vão os dias de minha infância
– Imagens rotas que se desmancham:
O vento do largo na praia,
O meu vestidinho de saia,
Aquele corvo, o vôo torvo,
O meu destino aquele corvo!
O que eu cuidava do mundo mau!
Os ladrões com cara de pau!
As histórias que faziam sonhar;
E os livros: Simplício olha pra o ar,
João Felpudo, Viagem à roda do mundo
Numa casquinha de noz.
A nossa infância, ó minha irmã, tão longe de nós!
Manuel Bandeira, As cinzas das horas
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