Manuel de Melo Duarte Alegre

Manuel de Melo Duarte Alegre – Natal

Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia. 
Era gente a correr pela música acima. 
Uma onda uma festa. Palavras a saltar. 

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima. 
Guitarras guitarras. Ou talvez mar. 
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia. 

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia. 
No teu ritmo nos teus ritos. 
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia). 
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos. 
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia. 
No teu sol acontecia. 

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia). 
Todo o tempo num só tempo: andamento 
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia. 
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva 
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva 
na cidade agitada pelo vento. 

Natal Natal (diziam). E acontecia. 
Como se fosse na palavra a rosa brava 
acontecia. E era Dezembro que floria. 
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava. 
E era na lava a rosa e a palavra. 
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia. 

Manuel de Melo Duarte Alegre, Antologia Poética 

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