A vida é sonho, – que afanoso sonho!
Há nela gozos de mentido amor;
Porém aquilo que nossa alma almeja
É sonho amargo de aflitiva dor!
Fantasma mudo, que impassível foge,
Se mão ousada a estreitá-lo vai;
Sombra ilusória, fugitiva nuvem,
Folha mirrada, que do tronco cai…
Que vale ao triste sonhador poeta
A noite inteira se volver no leito,
Sonhando anelos – segredando um nome,
Que oculta a todos no abrasado peito?!!…
A vida é sonho, que se esvai na campa,
Sonho dorido, truculento fel,
Longa cadeia, que nos cinge a dor,
Vaso enganoso de absintos, e mel
Se é um segredo que su’alma encerra,
Se é um mistério – revelá-lo a quem?
Se é um desejo – quem fartá-lo pode?
Quem chora as mágoas, que o poeta tem?
Ah! se um segredo lhe devora a vida,
Bem como a flor, o requeimar do dia,
Ele se estorce no afanoso anseio;
Rasga-lhe o peito íntima agonia.
Então compulsa a melindrosa lira,
Seu pobre canto é desmaiada endeixa;
A lira segue merencória, e triste
Pálidos lábios murmurando queixa.
Mas, esse afã – esse querer insano,
Esse segredo, – esse mistério, enfim,
Não é a lira que compr’ende, e farta,
Que a lira geme, mas não sofre assim.
A vida é sonho, duvidar quem pode?
Sonho penoso, que se esvai nos céus!
Esse querer indefinido, e louco,
Só o compr’ende – só o farta – Deus.
Maria Firmina dos Reis, Antologia de poetas negros do período abolicionista no Brasil
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O poema é fraco, palavroso, cheio dos chavões da poesia romântica da sociedade pq-burguesa novecentista. Legal recuperar autores deixados de lado pela história oficial da literatura. Mas não dá pra valorizar esse poema nem comparando-o com poetas românticos chorões `menores' como, por exemplo, Casimiro.