Mariana Botelho – Intimidade
um pequeno itinerário de passos
uma claustrofobia acariciada
gente que todo dia
me bate à porta e entrega
cílios meus que encontraram
na calçada
o dedinho de uma linda preta
com quem dividir os cílios caídos
com quem dividir o medo
de não sobreviver e de sofrer
a violência das crianças na escola
aquela voz grave todas as manhãs
todas as manhãs
aquele cheiro só
aquele cheiro de capim chovido
os olhos negros do meu pai
e uma cidade íntima
soluçando dentro de mim
os olhos do meu pai fincaram em mim duas colunas de óleo negro
buscando retalhos de amanhecer
em vão
nada digo
que seja digno de claridade
Mariana Botelho, O Silêncio Tange o Sino