Deve ser erro meu
querer jardim lá onde a natureza
só pretende selva.
Gramados, convenhamos,
são coisas de europeu
com galgos, gamos
e um castelo ao fundo
erva aparada em
séculos de cascos
coturnos e
sapatinhos de damas,
séculos de batalhas
e sangue nas raízes.
Aqui a batalha que travo
é muito outra,
luta contra as daninhas
contra as pragas
sempre mais fortes do que grama
ou flores.
Arranco e arranco
despedaçando em vão as pobres unhas.
Onças, tamanduás, serpentes e gambás
riem de mim
no escuro não distante.
E me pergunto se não sou eu
a praga
nessa insistência cega em extirpar
quem aqui nasce e vive
de direito.
Marina Colasanti, Poesia em 4 tempos