Marina Colasanti – Perigo quase amigo

Há no forro do meu teto
um movimento secreto
não sei se de pata ou asa
mas de alguém que ali fez casa.
Esse inquilino abusado
não toma o menor cuidado
raspa, grunhe, pia e arrasta
até que tanta saliência
desgasta minha paciência
e grito e bato no alto
para ver se lhe dou um basta.
Quero expulsar esse intruso
jogar-lhe desinfetante,
e ao mesmo tempo não ouso
pois sinto que o visitante
foi se tornando no tempo
amigo oculto constante.

 

Marina Colasanti, O Nome da manhã