Escuridão dum meio-dia de invernia…
Marasmos… Estremeções… Brancos…
O céu é toda uma batalha convencional de confetti brancos;
e as onças pardas das montanhas no longe…
Oh! para além vivem as primaveras eternas!
As casas adormecidas
parecem teatrais gestos dum explorador do polo
que o gelo parou no frio…
Lá para as bandas do Ipiranga as oficinas tossem…
Todos os estiolados são muito brancos.
Os invernos de Pauliceia são como enterros de virgem…
Italianinha, torna al tuo paese!
Lembras-te? As barcarolas dos céus azuis nas águas verdes…
Verde – cor dos olhos dos loucos!
As cascatas das violetas para os lagos…
Primaveral – cor dos olhos dos loucos!
Deus recortou a alma de Pauliceia
num cor de cinza sem odor…
Oh! para além vivem as primaveras eternas!…
Mas os homens passam sonambulando…
E rodando num bando nefário,
vestidas de eletricidade e gasolina,
as doenças jocotoam em redor…
Grande função ao ar livre!
Bailado de Cocteau com os barulhadores de Russolo!
Opus 1921.
São Paulo é um palco de bailados russos.
Sarabandam a tísica, a ambição, as invejas, os crimes
e também as apoteoses da ilusão…
Mas o Nijinsky sou eu!
E vem a Morte, minha Karsavina!
Quá, quá, quá! Vamos dançar o fox-trot da desesperança,
a rir, a rir dos nossos desiguais!
Mário de Andrade, 50 poemas e um prefácio interessantíssimo