Eu fechei os meus lábios para a vida
E a ninguém beijo mais, meus beijos são
Como astros frios que, de luz perdida,
Rolam de caos em caos na escuridão.
Não que a alma tenha já desiludida
Ou me faleçam os desejos, não!
O que outrem prejulgara uma descida,
É subir para mim, elevação!
Vejo o Calvário por que anseio, vejo
O Madeiro sublime, “Glórias” ouço,
E subo! A terra geme… Eu paro. (É um beijo.)
A moita bole… Eu tremo. (É um corpo.) Oh Cruz,
Como estás longe ainda! E eu sou tão moço!
E em derredor de mim tudo seduz!…
Mário de Andrade, Poesias completas vol. 2
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