Alma que foste minha,
desprendida de meu corpo e de meu espírito,
leque de palma sem raízes, sem tormentas,
que gênero esta noite te distingue,
que metro te organiza, por que dogmas,
que signos te orientam – rumo a quê?
- Mestre, qual é o sexo das almas?
Desmarcada e sem cordas
alma que foste minha
sem cravos e sem espinhos
que trigo milenar te mata a fome
divina
que pirâmide encerra tua essência
nudíssima
que corpo te defende de ti mesma
do espaço
que idade, quantas eras, contra o tempo
alma anárquica
desmarcada e sem cravos
sem precisão de estar
ou de ficar
– Que te vale Bizâncio?
ou de mudar
ou de fazer, ou de ostentar
– Que te vale este verso?
apoética, absurda
como chamar-te alma, de quê, quando,
para quê, alma de morto, para onde?
Mário Faustino, O homem e sua hora e outros poemas
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