Por que vos espantais se eu venho sobre as ondas?
Trago a paz e as distâncias vêm comigo
na boca tenho mundos e nos olhos palavras.
Ouvi-me.
Todas as coisas são palavras minhas:
a mais pura das nuvens
a mais pura que veio de longe e não se dissolveu
as colunas incolores além se levantando
quebradas luminosas líquidas colunas colunas
os cavalos que se empinam sobre a espuma
e o calmo silêncio povoando o mar.
Minhas palavras.
Antigas porém há pouco descobertas.
Lentas como o escurecer das nuvens refletidas
como o tremular tranqüilo da vaga adolescente.
Materiais límpidas palpáveis
frias e mornas coloridas de ondas e descendentes pássaros.
Resumidas numa única
impronunciável Palavra.
Mas eu não sou o Senhor
embora venham comigo a Música e o Poema.
Por que vos ajoelhais se eu vim por sobre as ondas
e só tenho palavras?
Ouvi a minha voz de anjo que acordou:
Sou Poeta.
Mário Faustino, O Homem e sua Hora e Outros Poemas