I
A mosca, a debater-se: “Não! Deus não existe!
Somente o Acaso rege a terrena existência!”
A aranha: “Glória a Ti, Divina Providência,
Que à minha humilde teia essa mosca atraíste!”
II
Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.
Porém no seu encalço, a cada instante e hora,
“Olha o burro! Fiau! Fiau!” gritava a bicharia…
Tinha o parvo esquecido as orelhas de fora!
III
Mono Velho, a gemer de gota, avista um leão.
Qual gota! Qual o quê! Logo trepa a um coqueiro.
Nada, para esquecer uma aflição,
Como um grande tormento verdadeiro…
IV
Gato do mato e leão, conforme o combinado,
Juntos caçavam corças pelo mato.
As corças escaparam… Resultado:
Não escapou o gato.
V
Diz o elefante às rãs que em torno dele saltam:
“Mais compostura! ó Céus! Que piruetas incríveis!”
Pois são sempre, nos outros, desprezíveis
As qualidades que nos faltam…
Mario Quintana, Antologia Poética