Nós vivemos num mundo de espelhos,
mas os espelhos roubam nossa imagem…
Quando eles se partirem numa infinidade de estilhas
seremos apenas pó tapetando a paisagem.
Homens virão, porém, de algum mundo selvagem
e, com estes brilhantes destroços de vidro,
nossas mulheres se adornarão, seus filhos
inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.
E não posso terminar a visão
porque ainda não terminou o soneto
e o tempo é uma tela que precisa ser tecida…
Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida?
Que outro lábio canta, com a minha voz perdida,
nossa eterna primeira canção?!
Mário Quintana, Poesias Completa