Mauro Mota – Sonambulismo

É noite erma. Silêncio. Ergo-me do aposento,
que é pequeno demais para conter meu sonho,
sonâmbulo abro a porta, a alameda transponho;
— a lua— Salomé — dança no firmamento!

Ao mundo falo então: “Sou um poeta tristonho,
Minh’alma é um bandolim que plange lento… lento…
Miriam onde está?! Vim buscá-la e acalento
na balada de amor que, há dois anos, componho…”

E o mundo — velho rei — disse baixando o açoite
“A mulher que sonhastes — ai que dores infindas! —
é bonita demais para ornar meu reinado!”

E quando o sol nasceu encontrou-me na noite
a buscar, pelo céu, nas estrelas mais lindas,
os dois olhos azuis deste Amor encantado!…

 

Mauro Mota, Poemas da juventude