Noites em que as estrelas ficam escutando
coisas que não se dizem a ninguém;
poentes de laca;
manhãs de lisa porcelana;
sobre vós, nas cidades febrentas
ou na orla dos cafezais,
quantas vezes não pousaram as tristezas
das nostalgias internacionais?
Sírios de olhos mouriscos,
lânguidos como beduínos;
húngaros de pupilas de absinto
e jaqueta de veludo;
russos de cabeleiras ruivas
– híspidos casquetes de astracã, –
quantas vezes não pararam bruscamente
ao ouvirem as sereias das fábricas
apitar como navios repatriadores?
Vossas guitarras e sanfonas
choraram nas toadas cosmopolitas
essa angústia indefinível:
mal do país na terra de ouro,
na pátria comum das esperanças ciganas,
confederação das nostalgias,
ímã internacional das aventuras…
É por isso que em teus poentes de laca,
em tuas manhãs de porcelana
ou nas tuas tardes de vitral,
há a beleza suprema de uma torre de cristal
onde todas as saudades juntas
irradiam sua onda
de harmonia e de nostalgia,
para ser colhida nos quatro pontos cardeais
pelas antenas dos corações que inda esperam
aqueles que se foram e que não voltam mais…
Menotti Del Picchia, Melhores poemas
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