Mia Couto – Estátua

Da abandonada estátua
partilho o mineral destino:
encherei de vazio a pedra,
e manterei os olhos polidos
pelos dejetos dos pássaros.

Da poesia
fiel discípulo serei:
abrirei a boca
apenas para morrer.

Mas se houver que proclamar
a justa lembrança, direi:

– a primeira pedra
não foi para castigar mulher.

Foi para esculpir
uma deusa
em cada futura Madalena.

 

Mia Couto, Vagas e lumes