Na igreja,
Rosarinho se confessou:
engravidei do rio, senhor padre.
Com gesto de água
arredondou o ventre.
O padre
se enrugou:
ela que não usasse desculpa
para os seus mortais pecados.
A ofensa tremia
na voz dela quando retorquiu:
— Desculpe, padre,
mas Nossa Senhora
não emprenhou de um feixe de luz?
Para mais, acrescentou Rosarinho,
o senhor padre
nem nunca, nem jamais viu esse rio.
E rematou
com lânguida saudade: aquele ondear,
as tonturas que ele traz…
Pegou o padre pela mão
e o convidou a descer o vale.
Agora,
todas as noites
o padre se banha
— Desculpe, padre,
mas Nossa Senhora
não emprenhou de um feixe de luz?
Para mais, acrescentou Rosarinho,
o senhor padre
nem nunca, nem jamais viu esse rio.
E rematou
com lânguida saudade: aquele ondear,
as tonturas que ele traz…
Pegou o padre pela mão
e o convidou a descer o vale.
Agora,
todas as noites
o padre se banha
nas águas do rio pecador.
Mia Couto, Poemas Escolhidos
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