Sou eu e ela, aqui no bairro. Sós,
Quando o luar me acorda e lhe prateia o lombo,
Cantamos nós,
Eu um poema agudo, e ela um rombo.
Rã, como a gerou a natureza,
Homem, porque eu assim o quis,
Somos os dois poetas da tristeza
Que há na gente infeliz.
Não era terra que a poesia olhasse
O lodo de que é feita e de que sou;
Mas a semente nasce
Onde o vento a deixou…
Miguel Torga, Diários