Mão de escultor, o barro é outro, agora!
É mais de baixo, de maior fundura.
É de uma terra mais humana, embora
Seja de terra toda a criatura.
Que a tua inspiração tenha ternura.
Que a tua solidão fique de fora.
Que não macule a nova formosura
A mais discreta sombra de outra hora.
Quando a forma começa, venha o lume!
Venha ao botão de rosa o seu perfume,
Límpido casto, como a flor o quer.
Desça da fronte augusta do artista
A impessoal beleza da conquista
De cada descoberta que fizer.
Miguel Torga, Cinco séculos de sonetos Portugueses