Miguel Torga – Nasce mais uma vez

Nasce mais uma vez, 
Menino Deus! 
Não faltes, que me faltas 
Neste inverno gelado. 
Nasce nu e sagrado 
No meu poema, 
Se não tens um presépio 
Mais agasalhado. 
Nasce e fica comigo 
Secretamente, 
Até que eu, infiel, te denuncie 
Aos Herodes do mundo. 
Até que eu, incapaz 
De me calar, 
Devasse os versos e destrua a paz 
Que agora sinto, só de te sonhar. 

Miguel Torga, Diários