Há o escritor que acredita
que, bem, só ele é que leu
e repete a toda hora:
“O grifo é meu”.
Não resiste à tentação
de tornar um pouco seu
o pensamento dos outros:
“O grifo é meu”.
Achando-se bem mais profundo
do que o autor e do que eu,
ele diz, sempre que pode:
“O grifo é meu”.
Seguro da descoberta
qual um novo Galileu
não contém o seu eureka:
“O grifo é meu”.*
- O grifo é meu.
Millôr Fernandes, Poemas
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