Murilo Mendes – Tobias e o Anjo
1
Eles já caminharam muito
Ao som das trombetas pascais,
Mergulhando nas árvores
Que de perto são verdes
Mas têm uma profundidade azul.
Já o grande Peixe investiu contra o moço dançarino.
Já deixaram atrás os muros de Ecbatana
E o perfil de Sara:
O vento varre as omoplatas da pedra.
Da castidade dos sinos
A noite agora surgiu.
O moço caminha só
Nas avenidas desertas.
2
O demônio moderno, áspero anjo,
Que pretendes enfim que eu te anuncie?
Ao fim dos sinos já encontramos a noite clássica,
E o profundo buquê de nuvens nos acena.
Nunca estaremos sós: pássaros e máquinas,
Vegetais marchando, espíritos desencadeados
Serão para sempre nossos cúmplices.
Do pálido asfalto
Se levanta a morte.
Jamais te encontrarei,
Adeus, invisível mundo.
Murilo Mendes, Melhores Poemas