Nicolas Behr – Umbigo
minha poesia é primeira linha
minha poesia não é de segunda mão
minha poesia às vezes é de terceira categoria
minha poesia vai começar. pode soltar os cintos
minha poesia. com a palavra, o poeta
minha poesia é de tirar o fôlego. é só parar de respirar
minha poesia a partir de agora vai fazer uso da palavra
minha poesia – você ainda não leu nada
minha poesia já foi vendida como cachaça pra doido
minha poesia é pra você jogar no chão, mas ainda não
minha poesia é pra você falar mal, mas só no final
minha poesia nunca mais tomou veneno para matar rato
minha poesia pode ser arnaldo, pode ser antunes,
pode ser geraldo, pode ser fagundes
minha poesia sente que tem alguém neste momento
atrás do poema com ujma faca
minha poesia come as cascas das feridas dos prisioneiros
no campo de concentração
minha poesia morde o poema até sair outro poema
minha poesia não é a grande poesia de manuel bandeira
mas é a certeza de que estou vivo
minha poesia sente tremeliques toda vez que ouve leninha e
as ministéricas
minha poesia vem do passado e por lá mesmo fica
minha poesia são meus olhos – molhe-os
minha poesia – cada dia uma linha e uma pequena dor
minha poesia e o poeta entram de mãos dadas no cemitério
para ler lápides e chorar um pouco – saudades dos seus
Nicolas Behr, Poesia marginal – antologia poética