você me pegava as mãos quando eu menos esperava. e eu
nunca via mais que um dostoiévski em teus
lábios. teus e não seus.
o que diziam nossas veredas bifurcadas? uma senda
entre teus nimbos-nimbos e meus cirros. branco, breu.
caminhávamos, ladoalado caminhávamos e ria
que eu poda cair. e eu ria que podia
me segurar. e ríamos de quem
nos chorava o medo.
eu podia te ver chegar. você dizia
uma saudade e seus braços cruzados
outra coisa, que eu não podia
entender. seus lábios, seus e não
teus, são cerrados pra o que não
é contradição.
eu chorava. eu acordava com a media
luz e chorava a sua sinceridade, não querer
e querer é sempre a mesma coisa. eu chorava
o seu gozo em minha língua, os desenhos das tuas mãos
que tanto falavam de mim, um brinco
perdido, meus cabelos emaranhados no edredom.
aí você queria me ver nas esquinas dos mais largos
bulevares, que seria um perigo eu me perder
em teu buraco negro.
e tomamos caldo. você verde
eu de cebola. torradas. e eu não podia
me embriagar do chileno e seco
vinho que você fazia questão de me pagar. eu não
me embriagava e te via partir no metrô, ônibus,
vontade. nossos lábios lábios se tocavam quase
-sem-querer. nossas mãos não queriam se
desgrudar, mas não eram nossos os nossos
corpos que não se queriam e eu te via
partir e você não me via icar.
e quando eu parti você me mandou
girassóis mortos pr’eu me contentar e eu
mijei sobre eles, pensando em tua namoradinha
inglesa. e eu sou mediterrâneo-africana.
depois, faminta da tua ausência e miséria, comi, tua
lembrança, intratável.
Nina Rizzi, tambores pra n’zinga
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