quando fui me deitar ventava, a menina esperneava o
calor
sem qualquer maldade a agasalhei na rede.
fumei meu último cigarro da noite enquanto balançava
pra lá, pra cá, pra lá, pra cá.
pensava na mulher que tenho sonhado, mulher que
chamo voglia
sonhava seu riso contido, o beijo que lhe dei e sua
resposta, lágrima de ouro.
quando acordei, o sol subia pelo horizonte do mar
amarelo e dolorido como há-de ser o sol.
me lavei, lavei a menina e saímos
depois do meu café amargo, dois cigarros.
agora fico aqui, tentando encontrar esse verso arisco
que lhe diga
– voglia, ainda sonho contigo.
Nina Rizzia, A duração do deserto
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