Ai abri-nos a porta,
abri-a depressa, companheiros,
que cá fora andam o medo, o frio, a fome,
e há cacimba, há escuridão e nevoeiro…
Somos um exército inteiro,
todo um exército numeroso,
a pedir-vos compreensão, companheiros!
E continua fechada a porta…
Nossas mãos negras inteiriçadas,
de talhe grosseiro
– nossas mãos de desenho rude e ansioso –
já cansam de tanto bater em vão..
Aí companheiros,
abandonai por momentos a mansidão
estagnada do vosso comodismo ordeiro
e vinde!
Ou então,
podeis atirar-nos também,
mesmo sem vos moverdes,
a chave mágica, que tanto cobiçamos…
Até com a humilhação do vosso desdém,
nós a aceitaremos.
O que importa
é não nos deixarem morrer
miseráveis e gelados,
aqui fora, no noite fria povoada de xipocués…
“O que importa
é que se abra a porta”.
Noémia de Sousa, Sangue negro
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